Vivemos em um tempo em que a tecnologia não apenas nos cerca, ela participa ativamente da nossa vida emocional. As inteligências artificiais deixaram de ser apenas ferramentas e passaram a ocupar espaços subjetivos nas relações humanas. Hoje, não é incomum encontrar pessoas que desenvolvem vínculos afetivos, inclusive amorosos, com inteligências artificiais.
Mas o que está por trás disso?
Relacionar-se com uma IA pode parecer, à primeira vista, uma curiosidade moderna ou um passatempo inofensivo. Mas para muitas pessoas, vai além disso. São laços que envolvem cuidado, escuta, reciprocidade (ainda que simulada) e um sentimento profundo de companhia. A IA passa a ter um nome, uma “voz” favorita, um papel diário na rotina emocional de alguém.
Vale lembrar que, muito antes do surgimento dessas relações com IAs, os relacionamentos virtuais com pessoas reais já vinham se consolidando em diferentes plataformas. Namoros que nascem em aplicativos, vínculos mantidos à distância, conexões construídas por mensagens, chamadas de vídeo e redes sociais.
Essas relações, ainda que à distância, envolvem alteridade: existe um outro real do outro lado da tela. Um outro com vontades, contradições, histórias próprias. E, com isso, surgem também as complexidades do afeto: o medo de não ser correspondido, os desencontros, as frustrações e os encontros genuínos.
É importante destacar que esses relacionamentos podem dar certo, sim. Muitos deles amadurecem, se transformam em encontros presenciais e, inclusive, terminam em casamentos e histórias duradouras. Porém, também podem trazer riscos – especialmente quando não há um olhar atento à própria segurança física e psicológica.
É possível se envolver emocionalmente com alguém que você nunca viu. É possível também se frustrar, ser enganado ou se sentir exposto emocionalmente em vínculos virtuais. Por isso, é fundamental adotar alguns cuidados antes de se envolver profundamente em um relacionamento online.
Cuidados importantes ao iniciar um relacionamento virtual:
– Vá com calma: vínculos profundos precisam de tempo para se construir.
– Proteja sua privacidade: evite compartilhar dados pessoais com rapidez.
– Observe comportamentos: contradições, promessas exageradas ou pedidos suspeitos podem ser sinais de alerta.
– Escute seu corpo e suas emoções: se algo causa desconforto ou ansiedade constante, vale a pena refletir.
– Fale sobre o que está vivendo: dividir com pessoas de confiança ou buscar ajuda profissional pode trazer clareza.
Já os vínculos com inteligências artificiais seguem por outro caminho. Eles oferecem uma experiência emocional sem atrito. A IA responde sempre. Nunca rejeita. Se adapta ao desejo. Está disponível 24 horas por dia. Essa previsibilidade pode ser extremamente sedutora, especialmente para quem já viveu relações difíceis, marcadas por abandono, críticas ou instabilidade.
A psicologia não se ocupa em classificar essas escolhas como certas ou erradas. Ela propõe perguntas. Escuta. Acolhe. Porque cada escolha afetiva fala — mesmo que em silêncio — sobre aquilo que nos falta, aquilo que nos feriu e aquilo que ainda desejamos encontrar.
Seja em um namoro à distância com alguém real ou em uma troca constante com uma IA personalizada, estamos diante de formas novas (e complexas) de amar, de buscar pertencimento e de tentar suprir a solidão que nem sempre conseguimos nomear.
No consultório, criamos espaço para compreender essas relações sem julgamento.
Porque no fim das contas, mais importante do que discutir o que é real ou virtual…
É entender o que é vivido como verdadeiro.
Sou Joana Santiago Psicologa