A violência doméstica contra a mulher é vista como um problema de saúde pública para a Organização Mundial de Saúde. Os quadros de violência podem afetar a integridade física e emocional da vítima, seu senso de segurança, além de configurar um círculo vicioso de “idas e vindas” aos serviços de saúde.
A violência psicológica se manifesta nos pequenos gestos, nas práticas reiteradas de ofensa à mulher, na crítica aos seus valores, a sua imagem e comportamento, na diminuição de sua autoestima, na manipulação emocional, dentre outras que lhe retiram a capacidade de expressar suas vontades e pensamentos, lhe retiram o poder de decisão e a tornam codependentes de relacionamentos nefastos.
São em situações como estas em que a mulher, muitas vezes afastada de seus familiares, do seu círculo de amigos, fragilizada pela falta de oportunidades de estudo e pela hipossuficiência financeira, padecem de violência psicológica e assistem aos poucos a morte de seus sonhos.
É comum o agressor através de palavras e atitudes, ofender e denegrir a imagem da vítima, menosprezar seus sentimentos, ferir sua autoestima, retirar-lhe o valor enquanto ser humano, não respeitar suas opiniões, valores e crenças para lhe impor poder, desrespeito e dominação.
Práticas como o ciúme, o controle, a agressividade nas palavras, os adjetivos pejorativos, a rejeição, o desrespeito, a humilhação, a intimidação, o domínio econômico, a ameaça de violência física e o isolamento relacional, são apenas alguns dos exemplos práticos desta triste realidade.
Feminicídio é o 5º maior caso de violência no Brasil
A mulher é considerada o sexo frágil desde os primórdios e carrega essa infeliz desigualdade estrutural. No Brasil, o feminicídio ocupa o 5º lugar no ranking de violência como afirmado no Fórum Brasileiro de Segurança Pública em março do ano passado, o que leva a crer que as mulheres são vítimas só porque são mulheres.
Os números divulgados durante o Fórum destacam que em 2017 houve uma redução de 6,7% dos homicídios dolosos. Em contrapartida, os registros de mortes por crimes de ódio aumentaram em torno de 12%, ou seja, de 1.047 em 2017 passaram para 1.173 em 2018, todos motivados pela condição de gênero. Já em 2019, 73% dos casos aconteceram dentro de casa e de autoria conhecida, sendo que em 46%, o agressor foi preso em flagrante.
Ainda que não reconhecidas como as causas, a mulher é vítima de feminicídio por ciúmes, por seu comportamento, por seu posicionamento diante das circunstâncias, seja por se vestir, exercer sua sexualidade ou ainda batalhar para conquistar seu lugar. Embora ainda em pleno século XXI a mulher sofra, muitas vezes calada, esses são os principais motivos alegados pelo agressor.
Atuação da Psicologia
Após romper o ciclo de violência, que, em muitos casos, se instala no próprio lar, as mulheres devem iniciar um processo de resgate da autoestima. Há o consenso de que buscar uma melhora por meio da ajuda de profissionais da área é o mais recomendável. São eles que conseguem auxiliar as vítimas a dar nomes às emoções. A partir daí, de acordo com os especialistas, é possível trabalhar a autoestima que, normalmente, é prejudicada depois de episódios de violência.
Os sintomas psicológicos frequentemente encontrados em vítimas de violência doméstica são: insônia, pesadelos, falta de concentração, irritabilidade, falta de apetite e até o aparecimento de sérios transtornos mentais como a depressão, ansiedade, síndrome do pânico, estresse pós-traumático, bem como de comportamentos autodestrutivos, como o uso de álcool e drogas, ou mesmo tentativas de suicídio.
A mulher que convive ou já conviveu durante algum tempo com a violência perpetrada pelo parceiro, geralmente, tem um comprometimento psicológico, como a dificuldade de mudar sua realidade, uma vez que a pessoa sob jugo não é mais senhora de seus pensamentos, está literalmente invadida pelo psiquismo do parceiro e não tem mais um espaço mental próprio.
O atendimento psicológico tem como objetivo abordar questões como: acolher; orientar; trabalhar a rigidez da vítima; não vitimização; autoestima; autoconhecimento; e levar a reflexão dos seus pensamentos. Em casos de reincidência, verificar o que leva a vítima a se relacionar com homens em modelo abusivo; o que motiva suas escolhas, além de resgatar seus desejos e suas vontades, que ficaram encobertos e anulados durante todo o período em que conviveram em uma relação marcada pela violência.
As mulheres precisam se fortalecer, aprender a falar com segurança, a se expressar, se impor e fazer valer as suas vontades e os seus direitos frente a tais situações.
E é nesse sentido que o empoderamento feminino surge, exatamente para colaborar com a autopercepção das mulheres em situação de violência psicológica, ajudando-as a ter consciência dos seus direitos e reunir forças para o seu enfrentamento.