A natureza da dependência química
A dependência química é uma doença crônica que está presente em diferentes classes ou contextos sociais, direta ou indiretamente. Quando um indivíduo usa uma droga, em geral, está de alguma forma em busca da sensação de prazer. Esta sensação é determinada pelo sistema de recompensa que existe em todos os seres humanos, devido à grande liberação de neurotransmissores, como a dopamina. Para experimentar novamente a sensação, a pessoa usa a droga novamente.
Com base no que foi mencionado acima e no meu post anterior sobre Dependência Química, gostaria de compartilhar uma matéria que saiu em 29/09/23 no O Globo.com, que mostra vídeos de pessoas em estado “zumbi” e o aumento da onda de mortes por overdose nas ruas de São Francisco, Califórnia.
A matéria fala do uso da xilazina, um medicamento de uso veterinário, de baixo custo, usado para sedar animais como cavalos, bois e outros mamíferos. Traficantes têm misturado o fármaco a outras drogas letais, como o fentanil, nos Estados Unidos, visando aumentar os lucros. O governo americano classificou a xilazina como uma “ameaça emergente” à saúde pública, sendo o opioide 50 vezes mais forte que a heroína. O consumo indiscriminado de xilazina é mais difícil de ser tratado do que o de outras drogas, pois nunca foi aprovado para uso humano.
Desafios atuais e reflexões sobre dependência química
Ao contrário do que muitos ainda pensam, drogas não se restringem apenas a substâncias ilegais / ilícitas. Também são consideradas drogas substâncias lícitas, por exemplo: cigarro; álcool; as prescritas por médicos (como remédio para emagrecer, ou até mesmo antidepressivos); ou aquelas que podem ser compradas em mercados ou lojas (como solventes, cola de sapateiro, etc). Cada vez mais, usuários e dependentes descobrem uma nova droga, e a cada descoberta de uma substância que pode causar o prazer esperado, estes divulgam a outros, através do “boca a boca”, esta nova “descoberta”.
Vale muito nossa reflexão sobre o assunto que além de ser considerada uma questão de saúde pública tem o olhar da psicologia para que cada um, a seu modo, possa encontrar maneiras de colaborar na questão da prevenção ou reabilitação do uso de drogas; tendo a consciência, despida de preconceitos, de que a melhor forma de compreender o fenômeno é através de uma perspectiva sistêmica e não linear.
Levando sempre em conta a função dos sintomas, o que estes querem dizer e para onde estão apontando. Lembrando sempre que o indivíduo, no caso o usuário de droga, não é isolado, mas que pertence a vários sistemas; e que o tempo todo afeta e é afetado por estes. Desta forma, o fenômeno do uso de drogas é dinâmico, muito complexo e jamais pode ser visto isoladamente.
Vejo também a importância de adotarmos uma perspectiva social nesta reflexão e nos questionarmos sobre as razões de tantas pessoas buscarem as drogas. O que está ocorrendo no mundo que faz com que tantos precisem de um recurso para sentir prazer? Será que já não é possível lidar com as questões atuais e estamos tentando nos anestesiar? Uma reação de fuga da vida ou uma real busca pelo prazer?
A dependência química é uma doença totalmente passível de tratamento, porém o primeiro passo é reconhecer tal necessidade.
Sou Joana Santiago – Psicóloga