A traição acontece quando alguém nos decepciona, quebrando uma expectativa ou regra estabelecida em relacionamentos amorosos. Além de prejudicar a relação, essa quebra de confiança pode trazer sentimentos negativos como raiva, tristeza, culpa e baixa autoestima.
A traição é uma perda. E, assim como o luto, há um processo psicológico de pesar que todos precisam passar para seguir em frente.
As experiências traumáticas de separação, traição e culpa são diferentes para cada pessoa. Seja como for, no momento em que há uma ruptura brusca da confiança, projetos, expectativas e sonhos são violentamente alterados. Isso faz com que o equilíbrio emocional e psicológico fique vulnerável a danos de médio a longo prazo.
A mente de quem é traído
Quando a traição acontece (e todos nós estamos sujeitos ou propensos a isso), tendemos a nos sentir TRAÍDOS, mas no sentido amplo da palavra, não só pela questão sexual, mas, principalmente, pela confiança e potencial destruição de projetos de vida elaborados em conjunto. Ou seja, por todos os bons momentos vividos ao longo da relação. Os estudos têm apontado (e tenho verificado isso diariamente no meu consultório) que quem é traído fica muito mais magoado pela descoberta da capacidade que o outro teve de arriscar todo um projeto de vida feito a “dois” por uma aventura qualquer. Mais ainda, por subestimar suas habilidades ao ponto de achar que nada daquilo seria descoberto. A pessoa traída costuma se sentir um lixo. Isso afeta toda sua vida, pois desconstrói todo um passado vivido. Detona toda a expectativa de futuro e dias melhores, mesmo que a relação siga em frente. Toda essa desconstrução causada pela traição dói exacerbadamente. Isso ocorre, pois, devido a decepção você passa a perceber que não conhecia seu companheiro tão bem como pensava. A partir daí você passa a sentir raiva não só de quem lhe traiu, mas também passa a sentir raiva de si e pode até considerar que – de alguma forma – você também é responsável por isso.
“A pessoa traída pode responder à traição de diversas maneiras. A sua forma de enxergar a situação depende do sentimento nutrido pelo parceiro e do estado do relacionamento. No entanto, mesmo que esteja péssimo, saber que foi traído nunca é fácil.”
A traição simboliza quebra de confiança e ausência de respeito com o próximo. Afinal, existem maneiras de melhorar o relacionamento e de terminá-lo sem causar tamanho sofrimento emocional ao próximo. Então, por que o parceiro escolheu machucá-lo dessa forma?
Quando a infidelidade acontece, o traído passa por um período de luto. Como algo muito importante é perdido, o pesar é semelhante ao de quando alguém amado morre. As emoções são tão intensas que podem causar um trauma emocional.
Além disso, as crenças da pessoa traída em relação aos relacionamentos podem sofrer mudanças radicais. Ela pode passar a desacreditar no amor, não ver mais sentido no casamento ou em relacionamentos longos, ou crer que é impossível confiar em alguém de verdade. Seus sonhos, planos para o futuro e expectativas também são danificadas bruscamente.
A mente de quem trai
A infidelidade geralmente é vista como coisa de pessoas imorais, más, insensíveis. Mas estudos têm mostrado que a verdade por trás de traições é mais complexa do que pode parecer. Para começar, traição não envolve só sexo. Quando se trata de infidelidade puramente sexual, a ocorrência média observada em estudos é de cerca de 20% dos casais. No entanto, a taxa aumenta para cerca de um terço dos casais quando se inclui infidelidade emocional. Muitos infiéis usam o sexo para satisfazer suas necessidades emocionais que não são atendidas. É por isso que se refugiam em uma situação onde acreditam que irão resolver essa necessidade, quando, na verdade, isso não acontece. Só aumentam a frustração e o desconforto.
Por sentirem desejo por outras pessoas, por monotonia ou por falta de paixão no próprio relacionamento, essas pessoas procuram por novas sensações. Elas decidem trapacear sem expressar essa necessidade aos seus parceiros. Porém, há algumas características que se encaixam na maioria dos casos de infidelidade:
Ciúme frequente: É uma contradição, mas isto ocorre. Os infiéis sentem que cometeram um erro e que o comportamento deles não foi correto. Eles mentem para os seus parceiros, e isso produz neles uma espécie de medo de que seu parceiro faça o mesmo, o que pode levar a um ciúme doentio. Algo que só existe na imaginação dos infiéis pela consciência culpada que os atormenta.
Emoções instáveis: As emoções passam a ser instáveis, muito extremas. O infiel facilmente se torna agressivo, controlador, inventa coisas que não existem. Isso só mostra o conflito mental que o infiel tem em sua cabeça e acaba por expressar emocionalmente.
Necessidade de dependência: O infiel, de repente, passa a depender de que sua parceira lhe diga o quanto ela precisa dele, o quanto ela o ama. Isto cria uma grande dificuldade na relação, causando estranheza. A parceira ou parceiro poderá começar a se sentir oprimido e desconfiado.
Ideias contraditórias sobre o amor: A infidelidade tende a mudar o conceito do que era, até então, estabelecido como amor. A pessoa começa a ter ideias para reviver a paixão sexual com seu parceiro, talvez experimentar coisas novas. O infiel começará, provavelmente, a mudar a maneira de ver as relações e começa a considerar a possibilidade de um relacionamento aberto ou de alguma outra forma. Preste atenção a estes sinais!
Apego e busca de companhia: Se a relação é quebrada pela infidelidade, o infiel, fervorosamente, sai à procura de outro parceiro. Há pessoas que precisam ter uma companhia para poderem ser infiéis.
Essas pessoas não procuram relações liberais. As consequências, novamente, serão o ciúme, a traição e o mesmo círculo vicioso de antes. Este tipo de relação não é nada saudável.
É possível perdoar um parceiro infiel?
O processo de superação da traição tende a ser longo para a maioria das pessoas. Dependendo das reações da pessoa traída, pode ser menos dolorido e demorado. Porém, dificilmente é feito sem, pelo menos, um pouco de dor emocional.
Como mencionei, são várias as razões que motivam as pessoas a serem infiéis. Apesar de termos o desejo de ver quem trai com maus olhos, é preciso lembrar que todos nós somos passíveis de cometer erros. Nem sempre a pessoa que trai quer arruinar a vida do parceiro ou fazê-lo sofrer.
São muitas as perguntas que rodeiam a infidelidade nos relacionamentos.
A verdade é que não existe uma resposta universal, capaz de satisfazer todas as pessoas que já foram traídas. Aceitar ou não que foi traído bem como perdoar ou não o parceiro são decisões que devem ser analisadas com calma, levando em consideração as emoções e os planos para a relação.
Perdoar não é o mesmo que conceder permissão ao parceiro para trair ou aceitá-lo de volta em sua vida. O perdão beneficia quem foi traído porque promove a libertação de emoções e de sentimentos desagradáveis, os quais fortalecem o apego da pessoa à situação dolorosa.
Além disso, quem perdoa o parceiro infiel tem todo o direito de expressar as suas preocupações e fazer mudanças (sensatas) na dinâmica do relacionamento até que a ferida seja curada.
Apenas não é legal aceitar o parceiro de volta e torturá-lo emocionalmente, fazendo-o sofrer por ter escolhido trair. É preciso ser honesto tanto consigo mesmo quanto com o outro ao perdoar. A vingança pode soar atraente na hora, mas não é o caminho certo para reconstruir a confiança perdida.
Se ambos os parceiros não têm essa intenção, a melhor decisão pode ser terminar o relacionamento. Ser traído certamente não diminui as oportunidades de reencontrar o amor de ninguém.
Agora, se quem traiu foi você, pedir perdão por ter causado sofrimento e conversar com sinceridade com o parceiro ou a parceira é a atitude mais honrosa nessa situação.
Caso seja muito difícil encontrar uma solução, é possível fazer terapia para descobrir a opção menos agressiva para a sua saúde mental. Conversar com um psicólogo também pode fazê-lo se sentir melhor, seja você o traído ou quem traiu.
O que você pensa sobre a infidelidade? Você pode acrescentar algo mais a este artigo sobre infidelidade? Esperamos as suas respostas e as suas opiniões sobre o tema.
Sou Joana Santiago – Psicóloga