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A pandemia matou a crença em muitos setores de que home office não funciona. Mas como vamos lidar com os efeitos psicológicos desse isolamento em casa/trabalho.

A maioria das empresas exigiu que os funcionários trabalhassem em casa para impedir a propagação do Covid-19. Embora os benefícios imediatos para a saúde de evitar espaços de trabalho comuns sejam óbvios diante de uma pandemia assustadora, é importante considerar as consequências para a saúde mental que podem advir do trabalho remoto.

De fato, a situação está deixando muitas pessoas se sentindo estressadas, solitárias, exaustas e, a grande maioria, sobrecarregadas.

Síndrome do home office

O home office gera estresse e inquietação significativos devido à confusão de fronteiras entre o trabalho e a vida pessoal. Um funcionário em casa muitas vezes está dividindo o tempo entre a tarefa de trabalho que precisa ser concluída, interrupções freqüentes do cônjuge e dos filhos, um cachorro que precisa passear e o reparo da casa, questão que surge de repente, por exemplo.

Dificuldades no home office:

  • Dificuldade em estabelecer uma estrutura e um horário razoáveis para o trabalho em casa, com períodos diferentes designados para o trabalho, a família e o relaxamento.
  • Falta de rotina, resultando em horas de trabalho prolongadas em casa, que avançam facilmente no tempo pessoal.

Além do estresse da síndrome do escritório em casa, existem os desafios únicos colocados pela atual pandemia viral, incluindo:

  • Incerteza geral sobre o impacto final do COVID-19 na saúde pessoal e familiar, na renda e nos planos de curto prazo.
  • Sentimentos de solidão promovidos pelo confinamento ordenado pelo governo e perda de relações sociais com colegas no escritório ou com amigos e outros membros da família.

Um primeiro passo fundamental para esse bem-estar, a antítese da síndrome do home office, é a atenção às necessidades fisiológicas, ou seja, reservar um tempo para comer nutritivamente (não apenas lanche); dormir o suficiente, de preferência sete a oito horas; e exercitar-se diariamente. Em 1943, o psicólogo Abraham Maslow criou um modelo que define uma hierarquia de necessidades humanas – com comida, água, abrigo, sono e segurança sendo os mais básicos. Até que esses princípios sejam cumpridos, disse Maslow, um indivíduo não pode alcançar a auto-atualização – encontrando verdadeiro significado no trabalho e na vida. 

Comer, dormir e se exercitar também ajudam a estabelecer limites, dividindo o dia em “fases” entre o tempo de trabalho e a vida pessoal. Sem essas “fases”, o trabalhador em casa está mais apto a pular os itens essenciais por causa de expectativas irreais de trabalho, foco excessivo e obsessão pelo desempenho no trabalho. O exercício tem a vantagem de ser um ótimo alívio do estresse e um contrapeso às longas e sedentárias horas de trabalho de uma cadeira em frente ao computador.

Como monitorar a saúde mental em home office

Nesse cenário de isolamento social, algumas empresas criaram programas que mostram a importância de manter uma rotina para seus funcionários. Como mudanças de benefícios e maior flexibilidade de tarefas e horários. Outras optaram por fornecer cadeiras e protetores de tela, por exemplo, para minimizar os impactos do trabalho remoto. Vale-transporte, locação de carros e custeio a cursos presenciais estão sendo substituídos por vale-alimentação, auxílio à internet e terapia online. Muitas dessas iniciativas estão ligadas a prevenção.

É o que aponta um levantamento realizado pelo PageGroup, consultoria em recrutamento executivo especializado. De acordo com dados coletados pelos consultores do grupo, metade das companhias já efetuou a troca no pacote de benefícios dos trabalhadores ou está em processo de substituição.

Após esses dias de home office, os funcionários começam a se preocupar com o retorno ao escritório. E as empresas começam a viver a fase 4, lidar com estresse pós-traumático de alguns funcionários que perderam parentes por Covid-19.

É de extrema importância que as empresas, além de elaborarem um plano estratégico para o retorno, também apresentarem estratégias para acompanhar a saúde mental dos funcionários na pós pandemia. Os líderes têm que estar muito mais próximos de suas equipes nesse momento.

De acordo com a revista Você S/A, pesquisas indicam que “poderemos ter casos de depressão e estresse pós-traumático por três anos”. Diante do fato de que antes mesmo da pandemia, a perda da produtividade nesta década ligada à explosão de casos de depressão no mundo já era apontada por organizações como a OMS (Organização Mundial da Saúde) e o Fórum Econômico Mundial, a atenção à saúde mental é cada vez mais importante. “Vivemos num sistema que causa muito sofrimento psíquico, a pandemia disparou uma série de questões que já estavam aí”, diz o psicanalista Francisco Nogueira, membro do Instituto Sedes Sapientiae e fundador da consultoria de desenvolvimento humano Relações Simplificadas.

Uma coisa é certa: neste momento de incerteza, a saúde mental do trabalhador deve ser uma prioridade para os empregadores.

Joana Santiago – Psicóloga