Um olhar da psicologia para igualdade e reconhecimento da dor histórica
Quando falo sobre consciência, não estou falando apenas de datas comemorativas ou de marcos no calendário. Falo de algo que atravessa nossa forma de viver, de enxergar o mundo e, principalmente, de enxergar o outro.
Como psicóloga, aprendi que consciência é, antes de tudo, escuta — uma escuta que não julga, não apaga e não minimiza a dor de ninguém.
Vivemos em um país onde a população negra carrega uma história marcada por desigualdades, violências e silenciamentos que ainda reverberam no presente. E, quando essas marcas chegam ao consultório, elas não vêm sozinhas: vêm acompanhadas de experiências de exclusão, falta de oportunidades, inseguranças e feridas emocionais que foram profundas demais para cicatrizarem sem cuidado.
Reconhecer essa dor histórica não é sobre culpar indivíduos, mas sobre compreender contextos.
Não é sobre dividir, é sobre humanizar.
E é justamente aí que a psicologia entra como uma ponte.
A psicologia como espaço de acolhimento e dignidade
No processo terapêutico, eu acolho histórias que o mundo muitas vezes insiste em ignorar. Acolho vivências que pedem respeito, validação e segurança. E sei que isso não é neutro; é um posicionamento ético.
Porque falar sobre igualdade não é tratar todo mundo igual.
É compreender que existem trajetórias mais pesadas, caminhos mais longos e barreiras que muitos ainda não reconhecem — justamente porque nunca precisaram enfrentá-las.
Na prática clínica, vejo como a escuta verdadeira pode transformar a forma como uma pessoa se percebe no mundo, e como o reconhecimento da própria narrativa pode trazer de volta algo essencial: a dignidade de existir.
Consciência também é ação
Falar sobre Consciência Negra no contexto da psicologia é assumir que o cuidado emocional precisa considerar raça, história e realidade social.
É entender que não existe saúde mental plena sem enfrentar desigualdades.
É abrir espaço para conversas que, por muito tempo, foram evitadas.
E, quando escolhemos olhar para essas questões com responsabilidade e humanidade, damos um passo importante na construção de um mundo mais justo — dentro e fora do consultório.
O que eu acredito
Acredito na força da empatia, mas não daquela empatia distante e confortável.
Acredito na empatia que nos move, nos ensina e nos faz questionar privilégios, discursos e atitudes.
Acredito no diálogo, na escuta e no reconhecimento.
Acredito que, quando me permito ver o outro em sua profundidade, algo se transforma, em mim e nele.
Porque psicologia também é isso: ver, escutar e acolher para que histórias possam ser reconstruídas com mais respeito, mais verdade e mais consciência.
Que a Consciência Negra nos lembre, todos os dias, da importância de escutar, respeitar e reconhecer histórias que precisam ser vistas com humanidade. Que a gente siga aprendendo, acolhendo e caminhando com mais consciência e empatia.
Sou Joana Santiago Psicóloga




