mãe segurando seu bebê recém nascido
mãe segurando seu bebê recém nascido

Para a maioria das mulheres a gravidez e a maternidade são uma alegria – pelo menos em parte do tempo. Mas a maioria das mães também sente preocupação, decepção, culpa, competição, frustração e até mesmo raiva e medo.

Tornar-se mãe é uma mudança de identidade que além das mudanças físicas, são as psicológicas as mais significativas que uma mulher irá experimentar.

O processo de se tornar mãe, que os antropólogos chamam de “matrescência”, não tem sido explorado de forma ampla na comunidade médica. Em vez de se concentrar na transição de identidade da mulher, a maior parte das pesquisas são focadas no bebê. Mas a história de uma mulher, além de como seu psicológico é afetado, é merecedora de um olhar mais cuidadoso e profissional. É claro que essa transição também é significativa para os pais e parceiros, mas as mulheres que passam pelas mudanças hormonais da gravidez podem ter uma experiência neurobiológica específica.

Quando as pessoas têm mais conhecimento sobre suas emoções, elas podem ter mais controle sobre seus comportamentos. Assim, mesmo quando o foco permanece na criança, compreender a psicologia das mulheres grávidas e as puérperas (período logo após o parto, onde o corpo da mulher passa por uma série de modificações físicas e psicológicas) pode ajudar a promover uma educação mais saudável. Mães com maior consciência de seu estado psicológico podem ser mais empáticas com as emoções de seus filhos.

Conhecer os desafios da maternidade, irá normalizar e validar como as novas mães podem estar se sentindo. Estas são as quatro principais coisas a serem observadas:

Dinâmica da Família em Mudança:

Ter um bebê é um ato de criação. A gravidez é mais do que criar um novo humano, também está criando uma nova família. O bebê é o catalisador que abrirá novas possibilidades para conexões mais íntimas, bem como novas tensões no relacionamento mais próximo de uma mulher com seu parceiro, irmãos e amigos.

Ambivalência:

A psicoterapeuta britânica Rozsika Parker escreveu em “Dividido em dois: a experiência da ambivalência materna” sobre a atração e o desejo de ter uma criança próxima, e também de desejar o espaço (física e emocionalmente) como um fato normal da maternidade. A ambivalência é um sentimento que surge nos papéis e relacionamentos em que a pessoa mais investiu, porque eles são sempre um ato de malabarismo entre dar e receber. A maternidade não é exceção. Parte do motivo pelo qual as pessoas têm dificuldade em lidar com a ambivalência é que é desconfortável sentir duas coisas opostas ao mesmo tempo.

Na maioria das vezes, a experiência da maternidade não é boa nem ruim, é boa e ruim. É importante aprender a tolerar e até se sentir confortável com o desconforto da ambivalência.

Fantasia x Realidade:

Quando chega o bebê, uma mulher já desenvolveu sentimentos sobre seu bebê fantasioso. Conforme a gravidez progride, uma mulher cria uma história sobre seu filho fictício e se torna emocionalmente envolvida nessa história.

As fantasias de gravidez e maternidade de uma mulher são informadas pelas suas observações das experiências da sua própria mãe e de outras parentes e amigas e de sua comunidade e cultura. Elas podem ser poderosas o suficiente para que a realidade desapareça se não se alinhar com sua visão.

Culpa, vergonha e “a mãe boa o suficiente”:

Há também a mãe ideal na mente de uma mulher. Ela é sempre alegre e feliz e sempre coloca as necessidades da criança em primeiro lugar. Ela tem poucas necessidades próprias. Ela não toma decisões que ela lamenta. A maioria das mulheres se compara a essa mãe, mas elas nunca se medem porque ela é uma fantasia. Algumas mulheres acham que “bom o suficiente” não é aceitável, porque soa como se não tivessem realmente dando conta da situação. Mas lutar pela perfeição faz com que as mulheres sintam vergonha e culpa.

As mães se sentirão culpadas porque estão sempre fazendo escolhas desafiadoras e às vezes impossíveis. Às vezes elas são obrigadas a colocar suas próprias necessidades sobre as de seus filhos. A maioria das mulheres não fala sobre se sentir envergonhada porque geralmente é algo que elas não querem que mais ninguém saiba. Vergonha é a sensação de que há algo errado comigo. Isso geralmente é o resultado de se comparar a um padrão irrealista e inatingível.

Quando as mulheres se sentem perdidas em algum lugar entre quem eram antes da maternidade e quem elas acham que deveriam ser agora, muitas se preocupam que algo esteja terrivelmente errado, quando na verdade esse desconforto é absolutamente normal.

Muitas mulheres têm vergonha de falar abertamente sobre suas experiências complicadas por medo de serem julgadas. Esse tipo de isolamento social pode até mesmo desencadear uma depressão pós-parto.

Dar à luz uma nova identidade pode ser tão exigente quanto dar à luz  um bebê. Com a mãe nasce um universo inteiro, de descobertas e presentes singelos que se fazem únicos. Em cada olhar, gesto ou forma de agir diante de situações novas, tudo é primeiro, tudo é curioso. 

Num artigo intitulado “A mãe dedicada comum”, escrito em 1966, o pediatra e psicanalista Donald Winnicott descreveu um estado psicológico especial, um modo típico que acomete as mulheres gestantes no final da gestação e nas semanas que sucedem o parto.

Trata-se, de uma condição psicológica muito especial, de sensibilidade aumentada, que Winnicott chega a comparar a uma doença, que, no entanto, é considerado normal durante esse período. Ele observa também que não é raro um surto psicótico típico nesse período, o que se denomina psicose puerperal.

Esse período inicial da maternidade vai interferir nas suas emoções, no seu corpo, nas suas interações sociais, mas vai passar. Se você tiver com um prejuízo muito grande em sua vida, procure ajuda, vá a sua ginecologista, converse com uma psicóloga, e não deixe de se apoiar nas pessoas de sua confiança.

Se estiver passando por esse turbilhão de emoções, vamos juntas encontrar as respostas?