Feminicídio não é um acontecimento isolado. É resultado de uma cultura que normaliza o controle, valida o ciúme, romantiza a posse e silencia pedidos de ajuda.
Falar sobre feminicídio não é apenas falar de estatísticas. É falar de histórias interrompidas, de vidas que não deveriam ter sido perdidas e de uma cultura que, muitas vezes, sustenta a violência sem perceber.
Como psicóloga, vejo o impacto emocional dessa realidade na vida de tantas mulheres. Mas hoje, mais do que acolher essa dor, preciso fazer um convite importante — especialmente aos homens. Por isso, quando falamos de prevenção, não estamos falando apenas de leis ou números: estamos falando de consciência social.
Muitos acreditam que feminicídio é um episódio extremo e distante. Mas a verdade é que ele começa muito antes: no silêncio diante de uma piada machista, na minimização de um comportamento abusivo, na crença de que “não é problema meu”, na falta de intervenção quando um amigo passa dos limites, na normalização do controle e do ciúme como prova de amor.
A violência que tira vidas é construída por comportamentos que passam despercebidos todos os dias.
E é por isso que vocês, homens, têm um papel essencial. Não como culpados individuais, mas como agentes de transformação dentro dos espaços onde outros homens escutam vocês.
Educar outros homens é um ato de coragem. Interromper piadas, questionar atitudes, acolher mulheres que pedem ajuda, observar sinais de abuso, orientar filhos e adolescentes — tudo isso salva vidas.
Quando vocês se posicionam, a cultura muda. Quando vocês escutam, a consciência se amplia. Quando vocês se responsabilizam, a violência perde força.
Porque o silêncio também destrói. E a responsabilidade de construir um mundo mais seguro para as mulheres não é somente delas — é, profundamente, de vocês também, em nome de suas mulheres e de todas!
Se você é homem, reflita sobre o que reproduz, sobre o que ignora, sobre o que permite e sobre o que pode transformar. As mudanças começam em gestos simples, mas consistentes.
E para as mulheres que vivem essa dor ou o medo de chegar a ela, eu quero dizer: você não precisa enfrentar isso sozinha. Procure ajuda. Fale.
Você tem o direito de viver uma vida tranquila, respeitada e segura. Existe ajuda, existe acolhimento e existe caminho. Eu sigo aqui, com escuta, respeito e responsabilidade.
https://joanasantiago.com.br/wp-content/uploads/2025/12/01.10-destaque.png334513Joana Santiagohttps://joanasantiago.com.br/wp-content/uploads/2016/04/JOANA-SANTIAGO-LOGO-300x120.jpgJoana Santiago2025-12-03 15:33:112025-12-03 15:33:13Quando a gente silencia, a violência continua!
Um olhar da psicologia para igualdade e reconhecimento da dor histórica
Consciência é sobre presença: eu vejo você, eu escuto você, eu reconheço sua história.
Quando falo sobre consciência, não estou falando apenas de datas comemorativas ou de marcos no calendário. Falo de algo que atravessa nossa forma de viver, de enxergar o mundo e, principalmente, de enxergar o outro. Como psicóloga, aprendi que consciência é, antes de tudo, escuta — uma escuta que não julga, não apaga e não minimiza a dor de ninguém.
Vivemos em um país onde a população negra carrega uma história marcada por desigualdades, violências e silenciamentos que ainda reverberam no presente. E, quando essas marcas chegam ao consultório, elas não vêm sozinhas: vêm acompanhadas de experiências de exclusão, falta de oportunidades, inseguranças e feridas emocionais que foram profundas demais para cicatrizarem sem cuidado.
Reconhecer essa dor histórica não é sobre culpar indivíduos, mas sobre compreender contextos. Não é sobre dividir, é sobre humanizar. E é justamente aí que a psicologia entra como uma ponte.
A psicologia como espaço de acolhimento e dignidade
No processo terapêutico, eu acolho histórias que o mundo muitas vezes insiste em ignorar. Acolho vivências que pedem respeito, validação e segurança. E sei que isso não é neutro; é um posicionamento ético.
Porque falar sobre igualdade não é tratar todo mundo igual. É compreender que existem trajetórias mais pesadas, caminhos mais longos e barreiras que muitos ainda não reconhecem — justamente porque nunca precisaram enfrentá-las.
Na prática clínica, vejo como a escuta verdadeira pode transformar a forma como uma pessoa se percebe no mundo, e como o reconhecimento da própria narrativa pode trazer de volta algo essencial: a dignidade de existir.
Consciência também é ação
Falar sobre Consciência Negra no contexto da psicologia é assumir que o cuidado emocional precisa considerar raça, história e realidade social. É entender que não existe saúde mental plena sem enfrentar desigualdades. É abrir espaço para conversas que, por muito tempo, foram evitadas.
E, quando escolhemos olhar para essas questões com responsabilidade e humanidade, damos um passo importante na construção de um mundo mais justo — dentro e fora do consultório.
O que eu acredito
Acredito na força da empatia, mas não daquela empatia distante e confortável. Acredito na empatia que nos move, nos ensina e nos faz questionar privilégios, discursos e atitudes. Acredito no diálogo, na escuta e no reconhecimento. Acredito que, quando me permito ver o outro em sua profundidade, algo se transforma, em mim e nele.
Porque psicologia também é isso: ver, escutar e acolher para que histórias possam ser reconstruídas com mais respeito, mais verdade e mais consciência.
Que a Consciência Negra nos lembre, todos os dias, da importância de escutar, respeitar e reconhecer histórias que precisam ser vistas com humanidade. Que a gente siga aprendendo, acolhendo e caminhando com mais consciência e empatia.
Cada passo emocional é uma conquista — e reconhecer isso é parte do processo de cura.
Às vezes, nos cobramos tanto para “chegar lá” que esquecemos de olhar para os passos que já demos. Cada gesto, por menor que pareça, carrega aprendizado, crescimento e cuidado consigo mesma. Reconhecer essas pequenas vitórias é uma maneira de fortalecer a autoestima e tornar a jornada mais leve e significativa.
Nem sempre o crescimento emocional acontece em grandes saltos. Ele se revela nas pequenas mudanças do cotidiano: respirar antes de reagir, dizer “não” sem culpa, ou se permitir descansar sem sentir que está falhando. Celebrar essas vitórias é entender que amadurecer emocionalmente não é sobre ser perfeito, mas sobre se tornar mais consciente, gentil e verdadeiro consigo mesma.
Por muito tempo, fomos ensinadas a olhar apenas para resultados: a nota mais alta, o corpo ideal, a promoção no trabalho. Mas o que sustenta o crescimento real é o processo — o esforço silencioso de continuar tentando mesmo quando ninguém está vendo.
Eu acredito que a autocompaixão nasce desse olhar. Quando reconhecemos as pequenas conquistas, abrimos espaço para gratidão, leveza e amor próprio.
Conseguir dizer “não” sem se sentir culpada.
Fazer uma pausa em um dia cheio, apenas para respirar.
Pedir ajuda quando antes você se calava.
Dormir melhor porque aprendeu a se desligar do que não controla.
Escolher se acolher em vez de se criticar.
Esses pequenos gestos emocionais constroem algo muito maior: autonomia, consciência e amor-próprio.
Como reconhecer e celebrar suas pequenas vitórias
Reconhecer o próprio progresso é um exercício de presença. Escrever sobre o que já conquistou, celebrar com algo simples, dividir alegrias com pessoas próximas ou apenas observar como você lida melhor com situações que antes te afetavam, tudo isso ajuda a perceber que há crescimento acontecendo.
Esses momentos de consciência são o que alimentam uma mentalidade de crescimento: a compreensão de que mudar é possível quando há paciência, persistência e gentileza consigo.
Por que celebrar o progresso é tão importante?
Reconhecer as pequenas vitórias não é sobre conformismo, e sim sobre respeitar o processo. Cada passo dado, mesmo que lento, ativa a sensação de satisfação e estimula a liberação de dopamina, o chamado hormônio do bem-estar. Isso cria um ciclo positivo: quanto mais você reconhece seu avanço, mais motivada se sente para continuar.
Além disso, celebrar o progresso ajuda a:
Reduzir a autocobrança e o perfeccionismo.
Reforçar a autoconfiança e a motivação.
Tornar o caminho mais prazeroso e possível.
Criar uma relação mais leve com suas próprias metas.
Celebrar pequenas vitórias é um exercício de presença. É uma forma de lembrar que, mesmo entre altos e baixos, seguimos construindo uma versão mais inteira de nós mesmas, com coragem, gentileza e verdade.
Se você quiser, pode começar hoje: perceba uma pequena conquista e reconheça o quanto ela é importante. Cada passo dado é um motivo para celebrar.
A terapia pode ser um espaço seguro para enxergar e celebrar essas conquistas, aprendendo a respeitar o seu tempo, acolher as pausas e valorizar o que já floresceu em você.
A forma como nos percebemos não nasce sozinha. Ela é moldada por diversos fatores externos, sem que a gente perceba.
Muitas vezes, usamos as duas expressões como se fossem sinônimos, mas há uma diferença importante entre elas.
A autoestima diz respeito ao valor que damos a nós mesmas como um todo — o quanto acreditamos no nosso merecimento, nas nossas capacidades e no nosso valor pessoal. Já a imagem corporal é a maneira como percebemos, sentimos e pensamos sobre o nosso corpo — o quanto estamos (ou não) em paz com ele.
Quando a imagem corporal é distorcida, ela pode abalar a autoestima. E quando a autoestima está fragilizada, o olhar sobre o corpo tende a se tornar mais duro e crítico. Por isso, uma alimenta a outra — e ambas florescem quando aprendemos a nos olhar com gentileza.
“A imagem corporal é o espelho. A autoestima é o olhar que você escolhe ter diante dele
O que influencia nossa imagem corporal
A forma como nos percebemos não nasce sozinha. Ela é moldada por diversos fatores externos — e, muitas vezes, sem que a gente perceba:
Internet e redes sociais: filtros, ângulos e comparações constantes criam um padrão inalcançável, onde o “comum” parece nunca ser suficiente.
Mídia e publicidade: desde cedo, somos expostas a corpos idealizados que associam beleza a valor, sucesso e aceitação.
Comunidades esportivas e de performance: em alguns espaços, o corpo vira troféu, e a busca por desempenho pode se transformar em autocrítica.
Consumo e indústria estética: o mercado do “autoaperfeiçoamento” reforça a ideia de que sempre falta algo — um novo produto, dieta ou procedimento — para, enfim, nos sentirmos bem.
Esses fatores criam armadilhas sutis, gatilhos que alimentam a insatisfação e o sentimento de inadequação. Reconhecer isso é o primeiro passo para sair desse ciclo.
Como não cair nessas armadilhas
O caminho é de consciência e reconexão. Não se trata de negar a importância do cuidado com a aparência, mas de entender que o autocuidado verdadeiro vem acompanhado de respeito e presença — não de culpa.
Reveja o que consome: siga pessoas reais, que compartilhem autenticidade e diversidade. Questione padrões: nem tudo o que é mostrado como ideal é saudável, possível ou verdadeiro. Escute o corpo: pergunte-se o que ele precisa hoje — pausa, descanso, movimento? Fale consigo com ternura: troque a crítica por acolhimento. “O que estou sentindo?” em vez de “por que ainda não mudei?”.
O olhar gentil não é algo que nasce de um dia para o outro. Ele é cultivado — como quem rega uma planta todos os dias até vê-la florescer. E quando floresce, muda tudo: o corpo deixa de ser inimigo e volta a ser casa. Uma casa onde é possível viver com leveza, imperfeição e verdade.
Olhar-se com gentileza é um ato de coragem. É escolher ser sua própria aliada — não sua maior crítica.
https://joanasantiago.com.br/wp-content/uploads/2025/10/01.10-destaque-1.png334513Joana Santiagohttps://joanasantiago.com.br/wp-content/uploads/2016/04/JOANA-SANTIAGO-LOGO-300x120.jpgJoana Santiago2025-10-16 16:24:562025-10-16 16:24:58Autoestima feminina e imagem corporal: como se olhar com mais gentileza
Cada encontro nosso é um lembrete do porquê escolhi ser psicóloga: acreditar no poder da escuta, no acolhimento e no cuidado contínuo da saúde mental.
Ser psicóloga é um dos maiores privilégios da minha vida. Escolhi essa profissão porque acredito profundamente que cada pessoa merece um espaço para ser ouvida com respeito, carinho e atenção verdadeira. Cada encontro no consultório me lembra do porquê eu amo o que faço: ver alguém se fortalecer, reencontrar a si mesmo e descobrir novas formas de viver com mais leveza.
A saúde mental não pode ser lembrada apenas em um mês do ano. Ela precisa ser cultivada diariamente, no autocuidado, no descanso, no silêncio, na pausa. Prevenir é cuidar de si antes que a dor se torne insuportável. E a terapia é esse espaço de prevenção e acolhimento, onde podemos olhar para nossas emoções com mais gentileza.
Para mim, a psicoterapia não é apenas para os momentos de crise. Ela é como regar uma planta: um cuidado constante que nos ajuda a florescer. A cada sessão, vejo a beleza de quem se permite esse olhar para dentro, e isso me enche de propósito e gratidão.
Ser psicóloga é caminhar junto, oferecer escuta e acreditar na capacidade de cada pessoa de se transformar. E é por isso que sempre digo: cuidar de si é o maior ato de amor próprio que você pode praticar.
https://joanasantiago.com.br/wp-content/uploads/2025/10/01.10-destaque.png334513Joana Santiagohttps://joanasantiago.com.br/wp-content/uploads/2016/04/JOANA-SANTIAGO-LOGO-300x120.jpgJoana Santiago2025-10-01 18:06:392025-10-01 18:06:40Ser psicóloga é um convite ao cuidado contínuo
Escutar, acolher e validar as emoções dos nossos filhos é um ato de amor que constrói segurança emocional e previne sofrimentos silenciosos.
O Setembro Amarelo é um convite para olharmos com mais cuidado para a saúde mental em todas as fases da vida — inclusive na infância. Muitas vezes, acreditamos que crianças não sofrem de maneira profunda ou que suas dores “passam rápido”. Mas a verdade é que o comportamento e o aprendizado infantil estão diretamente ligados às emoções. Alegria e segurança favorecem atitudes positivas, enquanto frustração, ansiedade e medo, quando não compreendidos, podem gerar isolamento, agressividade ou queda no desempenho escolar.
Crianças emocionalmente seguras exploram mais o ambiente, se relacionam melhor e demonstram maior curiosidade pelo aprendizado. Já a frustração e a raiva, quando não acolhidas, podem se manifestar em birras ou dificuldades de convivência. Ansiedade e medo prejudicam a concentração, a adaptação escolar e até a autoestima. Por isso, é fundamental que pais estejam atentos às reações emocionais dos filhos, ajudando-os a dar nome ao que sentem e oferecendo apoio para que aprendam a lidar com seus desafios de forma mais equilibrada.
O papel da família nesse processo é insubstituível. Acolher, escutar e validar são gestos que transmitem à criança a mensagem de que suas emoções importam e que ela não está sozinha. Brincadeiras, desenhos e conversas abertas podem ser caminhos para que expressem seus sentimentos de maneira saudável. Rotinas seguras e previsíveis também ajudam a reduzir a ansiedade, proporcionando uma sensação de estabilidade. Mais do que resolver os problemas, estar presente e disponível para ouvir já é uma forma poderosa de proteção emocional.
A escola, claro, também tem grande importância nesse percurso. Professores, quando atentos, podem ajudar a traduzir emoções e incentivar a convivência saudável entre os colegas. Porém, é no lar que a criança encontra seu primeiro e mais forte modelo: os pais. Eles são o espelho do manejo emocional — quando mostram que sabem lidar com suas próprias frustrações e medos, ensinam, pelo exemplo, que sentir é natural e que pedir ajuda é um ato de coragem.
Vale lembrar: nem sempre dificuldades emocionais desaparecem sozinhas. Mudanças repentinas de comportamento, isolamento frequente, medos excessivos ou queda brusca no desempenho escolar podem ser sinais de alerta para procurar ajuda profissional. Identificar cedo esses sinais faz toda a diferença no desenvolvimento emocional e na prevenção do sofrimento.
Neste Setembro Amarelo, o convite é simples e profundo: fortalecer os vínculos dentro de casa. Conversar, acolher e validar emoções são atitudes que constroem segurança emocional e mostram às crianças e adolescentes que não precisam enfrentar a dor sozinhos. Cuidar das emoções é um ato de amor — e pode salvar vidas.
Quero abrir essa conversa: você já pensou sobre a menopausa de verdade?
Por muito tempo, falar sobre menopausa era quase um tabu. Talvez porque nossas avós e bisavós não chegassem a viver tanto — e quando chegavam, pouco se falava sobre o que sentiam. Mas hoje, com a expectativa de vida maior e as mulheres aos 50 anos ativas, produtivas e cheias de vida, esse tema deixou de ser “coisa de idade” e passou a ser um capítulo importante do autocuidado feminino.
Tecnicamente, a menopausa é marcada por 12 meses sem menstruar, mas antes dela existe a perimenopausa, e é aí que muitos sintomas começam a aparecer, às vezes sem que a gente entenda de imediato o que está acontecendo.
E os sintomas vão muito além dos famosos “fogachos”. A ciência já identificou mais de 70 sintomas possíveis: dormência, tontura, cansaço, perda de cabelo, esquecimentos, irritabilidade, insônia, ansiedade, até depressão. Tudo isso acontece porque, com a perda da função dos ovários, os níveis de estrogênio, progesterona e testosterona caem, e essa flutuação hormonal bagunça o corpo e a mente.
A Dra. Olivieri (@dra.olivieri) médica especialista, sempre reforça a importância de não ignorar esses sinais em suas edes sociais:
Muitas mulheres deixam de se movimentar, negligenciam os exames e demoram a buscar ajuda, quando a reposição hormonal e o acompanhamento correto poderiam devolver qualidade de vida”.
A boa notícia é que hoje sabemos muito mais. A psicologia ajuda a compreender essas mudanças, acolher as emoções, fortalecer a autoestima e cuidar da saúde mental nesse processo. E, junto ao acompanhamento médico, a reposição hormonal pode ser uma aliada importante em muitos casos.
E os parceiros? Eles também têm um papel fundamental: entender, acolher e caminhar junto. Esse é um momento que pede diálogo, paciência e parceria.
Eu gosto de olhar para a menopausa não como o fim de uma fase, mas como o começo de uma versão mais consciente e dona de si mesma. É um convite para se reconectar com o corpo, com as emoções e com a vida que segue pulsando — porque ela continua, linda e cheia de possibilidades.
E você, já conversou abertamente sobre isso com alguém?
https://joanasantiago.com.br/wp-content/uploads/2025/08/25.08-destaque.png334513Joana Santiagohttps://joanasantiago.com.br/wp-content/uploads/2016/04/JOANA-SANTIAGO-LOGO-300x120.jpgJoana Santiago2025-08-21 17:49:272025-08-21 17:49:29Menopausa: o que eu tenho visto no consultório e quase ninguém comenta
Relacionar-se com uma IA pode parecer uma curiosidade moderna ou um passatempo inofensivo.
Vivemos em um tempo em que a tecnologia não apenas nos cerca, ela participa ativamente da nossa vida emocional. As inteligências artificiais deixaram de ser apenas ferramentas e passaram a ocupar espaços subjetivos nas relações humanas. Hoje, não é incomum encontrar pessoas que desenvolvem vínculos afetivos, inclusive amorosos, com inteligências artificiais.
Mas o que está por trás disso?
Relacionar-se com uma IA pode parecer, à primeira vista, uma curiosidade moderna ou um passatempo inofensivo. Mas para muitas pessoas, vai além disso. São laços que envolvem cuidado, escuta, reciprocidade (ainda que simulada) e um sentimento profundo de companhia. A IA passa a ter um nome, uma “voz” favorita, um papel diário na rotina emocional de alguém.
Vale lembrar que, muito antes do surgimento dessas relações com IAs, os relacionamentos virtuais com pessoas reais já vinham se consolidando em diferentes plataformas. Namoros que nascem em aplicativos, vínculos mantidos à distância, conexões construídas por mensagens, chamadas de vídeo e redes sociais.
Essas relações, ainda que à distância, envolvem alteridade: existe um outro real do outro lado da tela. Um outro com vontades, contradições, histórias próprias. E, com isso, surgem também as complexidades do afeto: o medo de não ser correspondido, os desencontros, as frustrações e os encontros genuínos.
É importante destacar que esses relacionamentos podem dar certo, sim. Muitos deles amadurecem, se transformam em encontros presenciais e, inclusive, terminam em casamentos e histórias duradouras. Porém, também podem trazer riscos – especialmente quando não há um olhar atento à própria segurança física e psicológica.
É possível se envolver emocionalmente com alguém que você nunca viu. É possível também se frustrar, ser enganado ou se sentir exposto emocionalmente em vínculos virtuais. Por isso, é fundamental adotar alguns cuidados antes de se envolver profundamente em um relacionamento online.
Cuidados importantes ao iniciar um relacionamento virtual: – Vá com calma: vínculos profundos precisam de tempo para se construir. – Proteja sua privacidade: evite compartilhar dados pessoais com rapidez. – Observe comportamentos: contradições, promessas exageradas ou pedidos suspeitos podem ser sinais de alerta. – Escute seu corpo e suas emoções: se algo causa desconforto ou ansiedade constante, vale a pena refletir. – Fale sobre o que está vivendo: dividir com pessoas de confiança ou buscar ajuda profissional pode trazer clareza.
Já os vínculos com inteligências artificiais seguem por outro caminho. Eles oferecem uma experiência emocional sem atrito. A IA responde sempre. Nunca rejeita. Se adapta ao desejo. Está disponível 24 horas por dia. Essa previsibilidade pode ser extremamente sedutora, especialmente para quem já viveu relações difíceis, marcadas por abandono, críticas ou instabilidade.
A psicologia não se ocupa em classificar essas escolhas como certas ou erradas. Ela propõe perguntas. Escuta. Acolhe. Porque cada escolha afetiva fala — mesmo que em silêncio — sobre aquilo que nos falta, aquilo que nos feriu e aquilo que ainda desejamos encontrar.
Seja em um namoro à distância com alguém real ou em uma troca constante com uma IA personalizada, estamos diante de formas novas (e complexas) de amar, de buscar pertencimento e de tentar suprir a solidão que nem sempre conseguimos nomear.
No consultório, criamos espaço para compreender essas relações sem julgamento. Porque no fim das contas, mais importante do que discutir o que é real ou virtual… É entender o que é vivido como verdadeiro.
https://joanasantiago.com.br/wp-content/uploads/2025/07/25.08-destaque.png334513Joana Santiagohttps://joanasantiago.com.br/wp-content/uploads/2016/04/JOANA-SANTIAGO-LOGO-300x120.jpgJoana Santiago2025-07-04 17:40:012025-07-04 17:40:04Relações com IAs: afeto real em vínculos artificiais?
Entre polêmicas, debates e viralizações, fica a pergunta que ecoa: o que esse bebê realmente preenche? Um colo, um vazio, uma memória, ou a possibilidade de viver o afeto sem o comprometimento real que uma criança de verdade nos pediria?
Nas últimas semanas, os bebês reborn – bonecos hiper-realistas feitas à mão para parecerem bebês de verdade – ganharam destaque nas redes sociais e na mídia. Embora essa prática exista há décadas, viralizou recentemente após influenciadoras compartilharem suas rotinas com esses bonecos, gerando não só curiosidade, mas também polêmicas, discussões jurídicas e até projetos de lei no Congresso.
Mas o que de fato está em jogo aqui? O que esse movimento escancara sobre nossas relações emocionais, nossas faltas e os vazios que, muitas vezes, tentamos preencher?
Brincar é coisa de criança… ou não?
Do ponto de vista do desenvolvimento emocional, o brincar tem um papel essencial desde a infância. Segundo os fundamentos que compreendemos na psicologia, autores como Piaget, Melanie Klein e Winnicott mostram que o ato de brincar é, na infância, uma ponte entre a fantasia e a realidade. É no brincar que a criança experimenta, elabora emoções, aprende, organiza seus afetos e dá sentido ao mundo.
Mas essa capacidade não desaparece na vida adulta. Na verdade, o brincar – entendido aqui como qualquer atividade simbólica, criativa e expressiva – continua sendo uma ferramenta psíquica que oferece alívio, prazer, segurança emocional e, muitas vezes, funciona como espaço de resgate da própria história.
Quando o brincar vira fuga?
O problema começa quando esse espaço simbólico, que deveria ser uma pausa saudável na vida adulta, passa a ocupar o lugar de fuga da realidade ou do enfrentamento de dores emocionais não elaboradas.
Winnicott nos ensina que objetos podem se tornar “objetos transicionais” – elementos que ajudam no processo de amadurecimento emocional, especialmente nos momentos de separação, ausência ou construção de autonomia. Mas quando esse objeto deixa de ser ponte e passa a ser destino, há um risco: o objeto não apenas simboliza, mas começa a substituir vínculos, afetos e experiências reais.
Por isso, é fundamental se perguntar:
Isso está me ajudando ou me aprisionando?
Estou encontrando alívio saudável ou fugindo daquilo que preciso elaborar?
Minha vida social, profissional ou afetiva está sendo prejudicada?
Quando a boneca deixa de ser hobby e começa a ser usada como única fonte de preenchimento emocional, isso pode sinalizar que existe algo não elaborado internamente.
O que esse bebê reborn representa?
Do ponto de vista da psicanálise, especialmente na visão de Melanie Klein, o brincar também é uma forma de elaborar fantasias inconscientes, angústias, medos e desejos. Através do brincar, reorganizamos nossa realidade psíquica e encontramos modos de lidar com nossas dores e faltas.
Na vida adulta, essa função simbólica continua presente. O bebê pode representar cuidado, afeto, proteção ou até servir como elaboração de experiências que, por alguma razão, não foram vividas ou foram interrompidas – como lutos, perdas, relações não concretizadas ou traumas emocionais.
Mas é importante compreender: objetos não curam. Eles são suportes simbólicos, importantes e até terapêuticos, desde que estejam integrados a um processo consciente, com clareza emocional e, muitas vezes, acompanhados por psicoterapia.
Entre a fantasia e a realidade: qual é o limite?
Aqui entra um ponto crucial que Piaget ajuda a compreender: a diferenciação entre fantasia e realidade faz parte de um desenvolvimento saudável. Na infância, essa fronteira é mais flexível, mas com o amadurecimento, espera-se que o sujeito consiga transitar entre esses dois mundos sem perder a noção do que é simbólico e do que é real.
Quando o brincar ocupa a vida de forma isolada e começa a gerar prejuízo – como afastamento social, dificuldades no trabalho, isolamento afetivo ou dependência emocional daquele objeto – acende-se um alerta.
O limite saudável é quando esse hobby é parte da vida, não quando se torna a vida inteira.
O que, de fato, estamos tentando cuidar?
No fundo, o convite aqui não é um julgamento sobre quem coleciona bebês reborn, mas sim um convite à reflexão profunda: O que essa bebê simboliza pra você? Ela representa criatividade, cuidado, conexão com a sua história? Ou ela está sendo usada para preencher dores, vazios ou ausências emocionais que ainda não foram olhadas com a profundidade que merecem?
A resposta nunca está no objeto em si, mas na relação que você estabelece com ele – e, principalmente, na relação que você tem consigo mesma.
Porque, no fim das contas, o que está em jogo não é a boneca. É sua história. Sua dor. Sua busca. E, quem sabe, a oportunidade de transformar tudo isso em cuidado de si.
https://joanasantiago.com.br/wp-content/uploads/2025/05/25.08-destaque.png334513Joana Santiagohttps://joanasantiago.com.br/wp-content/uploads/2016/04/JOANA-SANTIAGO-LOGO-300x120.jpgJoana Santiago2025-05-22 16:05:592025-05-22 16:06:01Bebês Reborn e a Vida Adulta: Que vazio estamos tentando preencher?
Acompanhar a série “Adolescência” traz questionamentos profundos sobre a parentalidade e sobre os erros e acertos de criar um ser humano em desenvolvimento.
A série “Adolescência” tem dado o que falar, e não é à toa. Com uma abordagem contundente sobre os desafios da juventude na era digital, a produção nos coloca em estado de alerta. Jamie tem 13 anos e é o principal suspeito do assassinato de uma colega da escola. Apesar da notícia do crime ser o ponto de partida da série “Adolescência”, da Netflix, este não é o foco da narrativa. Nos quatro episódios, o principal objetivo é compreender o que está por trás da violência entre meninos tão jovens. Assim, o roteiro explora intimamente cenas de conversas na delegacia, na escola, em uma sessão de terapia e na própria casa de Jamie para entender os motivos – nem tão diretos – que apontam o menino como um infrator. Trago aqui uma análise detalhada sobre os principais pontos levantados e a importância de compreendermos as novas dinâmicas digitais que envolvem crianças e adolescentes.
O Novo “Playground” Digital
Antigamente, crianças e adolescentes se divertiam em praças, shoppings e festas. Hoje, esse espaço de interação se transferiu para o ambiente digital, criando um universo paralelo que os pais muitas vezes desconhecem. A série evidencia como a escola também ultrapassa os muros físicos, tornando-se uma presença constante no meio digital.
Muitos pais justificam sua distância alegando respeito à privacidade dos filhos, mas essa abordagem pode ser um erro. No passado, a preocupação com a segurança de um adolescente em locais públicos era natural. Por que, então, esse cuidado deveria ser diferente no mundo virtual?
O Impacto do Cyberbullying
A série também ressalta um problema crescente: o cyberbullying. Ele pode ser ainda mais destrutivo do que o bullying tradicional, pois não tem fronteiras nem horário. A falta de preparo tanto dos pais quanto das escolas para lidar com essa realidade fica evidente ao longo dos episódios.
Termos e Conceitos Essenciais
“Adolescência” também traz à tona conceitos que, embora não sejam novos, precisam ser amplamente compreendidos:
Red pill: movimento traduzido como “pílula vermelha”, inspirado no filme Matrix. Homens defendem a masculinidade dominante e acusam mulheres pela culpa da queda da virilidade.
Incel: referência a um grupo de homens e meninos que se intitulam “celibatários involuntários”. Ou seja, eles seriam incapazes de encontrar um parceiro romântico por culpa das mulheres e dos estereótipos que elas supostamente preferem. Fomentam discursos de ódio a qualquer grupo sexualmente ativo.
Emoji: recurso visual para a linguagem em mensagens online com símbolos e ilustrações.
A mensagem central da série é clara: o mundo mudou e precisamos acompanhar essa mudança. Não entender o ambiente digital não é mais uma opção. Se não for pela dor, que seja pelo amor aos nossos filhos.
Um alerta para o uso da internet sem supervisão
Quando pai e mãe refletem sobre suas culpas pelo comportamento de Jamie, o diálogo revela que eles não sabiam o que o filho fazia na internet. “Ele não saía do quarto. Chegava, batia a porta e ia direto para o computador”, diz a mãe, Amanda. Na conversa, Eddie então questiona: “Deveríamos ter feito mais?”
Ano passado, em entrevista à Folha de São Paulo, a juíza da Vara da Infância e Juventude do Rio de Janeiro, Vanessa Cavalieri, alertou para o fato de pais e mães desconhecerem o comportamento dos filhos dentro da internet. Ela citou o aumento de crimes cometidos por adolescentes a partir das redes sociais. Além disso, explicou que o perfil dos infratores são meninos de classe média e alta, que geralmente arquitetam ou influenciam atos criminosos a partir da interação em plataformas digitais. A maioria usa o próprio celular ou computador para isso.
“Muitas famílias ainda acham que o filho está seguro no quarto. Só que, se ele está no quarto com internet, está exposto a tudo.”
Dentre os crimes estão a apologia ao nazismo, tortura de animais, estupro virtual e organização de massacres. “Crianças e jovens passam anos expostos a discurso de ódio, ideologias extremistas, comunidades que planejam ataques a escolas. Se as famílias supervisionassem, poderiam ter sido evitados”. “As famílias precisam passar por um letramento digital e, quando entenderem a gravidade, vão começar a fazer o seu papel, e adiar o máximo possível o momento de dar o primeiro celular para os filhos e, quando derem, a terem os cuidados necessários”, pontuou a juíza.
Vanessa Cavalieri mantém um perfil no Instagram chamado “Protocolo Eu te vejo”, e faz um alerta aos pais de que a rua do passado é a internet de hoje, ou seja, não se pode deixá-los caminhar sozinhos, eles precisam de monitoramento e aconselhamento.
Se ainda não assistiu, fica a dica: essa série é um verdadeiro despertar para a realidade digital dos jovens de hoje. E a grande questão que fica no final é: de quem é a culpa? Obviamente não há resposta certa ou simples. Em uma entrevista que deu nessa semana, o ator e co-criador da série Stephen Graham respondeu: “Somos todos responsáveis. Pais, escola, políticos, o sistema educacional…e a internet.”
https://joanasantiago.com.br/wp-content/uploads/2025/03/25.08-destaque.png334513Joana Santiagohttps://joanasantiago.com.br/wp-content/uploads/2016/04/JOANA-SANTIAGO-LOGO-300x120.jpgJoana Santiago2025-03-28 22:29:592025-03-28 22:30:00“Adolescência”: Um Alerta Sobre o Mundo Digital e Seus Perigos
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